Memorial de Aires - Crítica
O romance opera um verdadeiro retrocesso na obra machadiana. Nele o romancista retorna à concepção romântica, mitigada pelo ceticismo risonho do conselheiro Aires. Ai se respira a mesma atmosfera dos seus primeiros romances: os seres são de eleição e a vida gira em torno do amor. Distingue-o, porém, e torna-a muito superior àqueles a mestria do ofício, o domínio do instrumento.
Como novidade, traz a forma de diário e o narrador não é onisciente; observa como simples comparsa os personagens principais, procura adivinhar-lhes o íntimo através de suposições próprias ou através de informações alheias.Como Memórias Póstumas de Brás Cubas, esta obra não tem propriamente um enredo: estrutura-se em forma de um diário escrito pelo Conselheiro Aires, que é o mesmo personagem-narrador da obra anterior do autor, Esaú e Jacó, que pouco age e passa a maior parte da narrativa contemplando placidamente as aventuras amorosas e existenciais dos jovens ao seu redor.
O diário compreende dois anos na vida de um sexagenário que, com sua proverbial mas plácida sabedoria, ilude e engana o leitor com pequenas observações carregadas de perspicácia. Nele o narrador relata, miudamente, sua vida de diplomata aposentado no Rio de Janeiro, de 1888 e 1889. Sucedem-se, nas anotações do conselheiro, episódios envolvendo pessoas de suas relações, leituras do seu tempo de diplomata e reflexões quanto aos acontecimentos políticos. Destaca-se, dando uma certa unidade aos vários fragmentos de que livro é composto, a história de Tristão e Fidélia. Trata-se de um livro concebido