memoria

Foi o pior dia da minha vida, e tal vez o momento que mais me marcou durante os meus noventa anos de vida. Lembro-me de uma casa pequena, acolhedora, entrávamos por uma porta, depois de umas duas ou três escadas, era hora de jantar, por cima da toalha branca com flores pretas que usávamos todos os dias, estavam quatro pratos brancos, o mesmo número de copos pretos oferecidos pela minha avó, comíamos carne assada que o meu pai havia conseguido comprar com o dinheiro que ganhara. Até ali um dia normal igual aos outros, mas de repente toca a campainha, naquele momento, o meu coração parou, o medo de ser mais uma rusga nazi arreliava-me os pelos, só ouvia o meu pai a sussurrar-me ao ouvido para me esconder com a minha irmã de cinco anos, ela chorava e berrava de medo enquanto pequei nela ao colo e corri para debaixo da cama, entretanto os meus pais tinham sido capturados e levados para o campo de concentração de Varsóvia, tive de crescer rápido para cuidar da minha irmã. Um dia veio-me á cabeça a ideia de tentar salvar os meus pais daquele maldito campo de concentração, passei noites em branco a estudar as várias formas de entrar lá, mas nada, não existia forma de penetrar aquelas correntes eléctricas, neste momento a minha cabeça estava completamente a rebentar com a preocupação em arranjar comida para a minha irmã e não ser apanhado, ao mesmo tempo pensar em como salvar os meus pais, só queria morrer ali e não sofrer mais com tudo isto, porém a minha irmã precisava de mim. Ganhei coragem e tentei invadir o campo de Varsóvia deixando a minha irmã em casa, passei a corrente eléctrica, quando de repente um dos guardas nazis me aparece à frente, comecei a correr e só parei em minha casa depois de o despistar, achava que aquela semana não poderia piorar, quando abro a porta de casa chamo pela minha irmã, quando vou ao quarto tinha tudo do avesso, tinham estado ali nazis, a minha vida parou ali, agarrei numa pistola que tinha guardada para me proteger,