melatti cap XV
Cap. XV: O ÍNDIO E O CIVILIZADO: O QUE UM PENSA DO OUTRO
“Dêsse modo, os civilizados brasileiros têm determinadas idéias com respeito aos índios e agem segundo essas idéias. Cada sociedade indígena por sua vez, faz uma imagem da sociedade civilizada e atua segundo essa imagem.” Pág. 173.
“Dêsse modo, os sertanejos afirmam que os índios são preguiçosos, cruéis, sujos. Ao chama-los de preguiçosos, associam a isto a idéia de que os índios não aproveitam bem suas terras, que estas produziriam muito mais se pertencessem aos sertanejos; tal acusação serve também para justificar os salários baixos que dão aos índios ou, em outras regiões onde há excesso de mão de obra, para recusar-lhes trabalho. Ao chama-los de cruéis, justificam a crueldade que usam para com eles. Não raro se houve dizer entre os sertanejos que o índio deve ser tratado a bala.” Pág. 174.
“Uma grande parte dos habitantes das cidades têm uma visão romântica do índio. Fazem do índio um ser naturalmente bom. Tal visão foi cultivada por pensadores europeus do passado, baseados nos dados dos primeiros viajantes, e que culminou nas idéias de Rousseau a respeito da bondade natural do homem.” Pág. 174.
“A mentalidade estatística é encontradiça sobretudo nos meios intelectuais. Caracteriza-se preocupação com números. Os portadores dessa mentalidade argumentam que, sendo tão poucos os índios com relação à população brasileira e havendo tão grandes problemas a ser resolvidos no âmbito da população não índia, não se vê por que tanta preocupação com o problema indígena.” Pág. 174 e 175.
“[...]Querem fazer os índios trabalhar, não segundo seus costumes e tradições, mas impor-lhes o sistema de trabalho dos civilizados e de finalidade comercial.” Pág. 176.
“Desde os primeiros contatos com homens civilizados, os índios se dão conta das diferenças de tradições, de modo de ver o mundo, que os separam dos brancos e não raro procuram o diálogo a respeito