Melanie klein
Ryad Simon[1]
Considero Melanie Klein a mais importante criadora de teorias e técnicas em Psicanálise depois de Freud. Sua invenção da técnica lúdica para análise de crianças desde tenra idade forneceu-lhe instrumentos para desvendar segredos das profundezas da mente humana desde os primórdios de sua formação. Não é possível entender os conteúdos e o funcionamento da mente psicótica sem os conceitos que desenvolveu gradativamente estudando os meandros da comunicação infantil. Ela parte da constatação de que no psiquismo da criancinha o inconsciente está muito próximo do consciente, e as manifestações da fantasia inconsciente manifestam-se na conduta e no brincar de forma quase indisfarçada – para o olhar do observador preparado. Devido o estilo de escrita de Melanie Klein ser bastante direto e sem rodeios; sem pedir desculpas e sem tentar persuadir o leitor, a leitura de seus trabalhos é chocante pela crueza da exposição. Quando eu era pós-graduando em Psicologia Clínica, lendo seus textos vinha-me inevitavelmente a impressão: “essa mulher é louca!” – “como pode ela saber o que se passa na mente do bebê se este não fala e mal se comunica?” Quando ela apresentava seus trabalhos na Sociedade Britânica de Psicanálise os psicanalistas diziam educadamente: - “Sra. Klein, nós não entendemos o que a senhora diz!” Ao que ela retrucava: “Mas minhas crianças e meus pacientes entendem...” De fato, em minha experiência como supervisor de psicoterapia psicanalítica de crianças (e também de adultos) quando, diante da exposição da sessão, eu dizia algo do inconsciente profundo – deduzido da comunicação do paciente – o colega, constrangido, dizia: “Mas eu posso dizer isso à criança?!” Eu respondia: “Claro! Pode dizer que a criança entende.” E na supervisão seguinte o supervisionando surpreso confessava: “A criança recebeu com naturalidade a interpretação; e ainda acrescentou coisas mais escabrosas!” Ou seja, o embaraço e a angústia eram do