Meditação de René Descartes

1480 palavras 6 páginas
Meditação Primeira

Percebi que não poderia mais ter absoluta certeza de fatos outrora tomados como verdadeiros. Era então necessário revê-los todos a fim de estabelecer algo acima de dúvida nas ciências. Mas, sabendo da dificuldade que a tarefa representava, esperei até atingir uma idade na qual não pudesse mais adiá-la.
Portanto, agora me aplicarei a destruir todas minhas antigas opiniões. Para isso não preciso analisá-las uma a uma, preciso apenas derrubar o que todas têm em comum e o que de todas é o alicerce principal.
Tudo o que aprendi foi através dos sentidos; então, já que estes já se mostraram indignos de confiança uma vez, não posso deixar-me enganar por eles.
Contudo, mesmo sabendo que os sentidos nos enganam às vezes, há certas situações em que não se pode razoavelmente duvidar deles. Como eu poderia negar que estas mãos e corpo sejam meus? Seria loucura negar isso.
Entretanto, devem concordar que em sonho mesmo homens sadios costumam representar certas coisas pouquíssimo verossímeis. E, ainda que em alguns desses sonhos saiba que estou sonhando, às vezes sou enganado por tais ilusões. Pensando bem sobre isso, não consigo distinguir marcas que possam separar claramente a vigília do sonho.
Vamos supor agora que estejamos dormindo e todo nosso corpo e o que sentimos através dele não passa de ilusão. Ainda assim, é preciso confessar que esse corpo e esses sentidos ilusórios devem ter sido espelhados em um corpo real com sentidos reais. Ainda que a realidade seja muito diferente da ilusão que nos é apresentada neste sonho, não podemos deixar de supor que ela deve existir para inspirar o sonho.
Pela mesma razão, ainda que em vigília nossos sentidos talvez nos enganem e alterem as características do mundo, devemos admitir que existe um mundo que é de natureza corpórea e real.
É por essa razão que podemos concluir que a Física, a Medicina e todas as outras ciências dependentes do modo como nossos sentidos nos apresentam o mundo são muito duvidosas e

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