Medicina Popular e Medicina científica
“Não pode haver um outro modo de manipular a realidade e de produzir soluções que não se inscreva nos restritos domínios daquilo que a ciência erudita já sistematizou (e dogmatizou)? Não pode haver uma outra maneira de se pensar a questão da eficácia, a do ponto de vista dos oprimidos?”
(OLIVEIRA, 1985a: 87)
Terapêuticas populares: uma tentativa de aproximação
O interesse por esta problemática vem de vários anos. Teve seu início juntamente com nosso trabalho psicoterapêutico em comunidades periféricas através do Centro Regional de Saúde, da Universidade de Passo Fundo, onde desenvolvíamos nossas atividades conjuntamente com uma médica, uma enfermeira, uma dentista e uma auxiliar de enfermagem. Durante o transcurso de nosso trabalho, se apresentaram inúmeros problemas que nos fizeram relativizar tanto os nossos posicionamentos em relação à técnica psicoterapêutica, quanto as terapêuticas oficiais de saúde como um todo. No que se refere ao nosso trabalho específico, observamos que os pacientes não conseguiam cumprir o horário, o número de desistências era extremamente alto, a solicitação por uma atitude mais ativa era uma constante e a demanda para a eliminação dos sintomas se constituía, muitas vezes, na única razão para o atendimento. Os sintomas apresentados pelos pacientes, geralmente condensados na representação “doença dos nervos” (COSTA,
1986 e 1989; DUARTE, 1986; QUINTANA, 1989), eram de uma outra índole da que estávamos acostumados a ver no consultório particular. As mesmas problemáticas, com as especificidades de cada área, podiam ser observadas no trabalho de toda a equipe: dificuldades para que os pacientes observassem as prescrições, a diferente agregação dos sintomas que, por vezes, era atribuída ao paciente, como um indicativo de sua dificuldade de expressão, etc. Juntamente com estas problemáticas, se percebia todo um sistema de saúde paralelo ao prestado no ambulatório onde