MAÍRA NICOLINI
Para fazer as discussões desse capítulo, Weber toma o protestantismo ascético como um todo. Uma discussão de ênfase, que é muito séria na religião protestante, é a riqueza. Ela é perigosa*, pois traz consigo o perigo do relaxamento. O “descanso eterno” deve ser deixado para o outro mundo. Na Terra, o homem tem que trabalhar o dia todo, até mesmo os ricos, para que possam cumprir sua destinação, aumentando assim sua glória em Deus. A perca de tempo é o principal de todos os pecados. Provoca conversas ociosas, luxo, além de sono desnecessário para a saúde. O trabalho é a finalidade da vida e o preventivo contra todas as tentações. Quem não tem vontade de trabalhar não tem estado de graça. O crente deve utilizar a sua vocação para atingir o lucro. Se Deus vos aponta um meio pelo qual legalmente obtiverdes mais do que por outro (sem perigo para a vossa alma ou para a de outro), e se o recusardes um dos fins da vossa vocação, e recusareis a ser o servo do Deus, aceitando suas dádivas e usando-as para Ele, quando Ele assim o quis. Deveis trabalhar para serdes ricos para Deus, e, evidentemente, não para a carne ou o pecado. (WEBER, 1987, p. 116). Então, a riqueza só era condenável se praticada com a intenção de construir a vadiagem.
Estas restrições à riqueza levaram o crente a investir o seu capital.A explicação religiosa da vocação foi de extrema importância para justificar as divisões do trabalho no capitalismo, pois estas divisões não poderiam ser injustas, visto que cada indivíduo desempenhava a função que Deus havia lhe destinado.O trabalho vocacional era um instrumento de ascese e, ao mesmo tempo, um meio seguro de preservar a fé. Essa é a mais poderosa expressão do “espírito” do capitalismo, segundo Weber.
Para Calvino, somente enquanto os operários e artesãos fossem pobres eles se manteriam fiéis a Deus, pois quando a riqueza aumenta, a religião diminui.Mas o capitalismo conseguiu desvencilhar-se do “espírito”