Matemática Quilombola

KALUNGA = Lugar sagrado, de proteção (Maioria da região de Benin e Moçambique - de raiz linguística banto)
Descendentes de um quilombo que se estabeleceu ali a mais de 250 anos, os Kalunga souberam aproveitar a dificuldade de acesso ao local para se esconder da escravidão e depois acolheram como sua a terra que lhes serviu de refugio, desenvolvendo-se isolados praticamente do resto do país – ( A abertura, por assim dizer, começou há apenas 30 anos, mas vem rapidamente afetando seu modo de vida.)
A iluminação (desde 2006) é pouca, concentrada nas casas. A primeira impressão, ao ver moradias com telhado de palha, bastante afastadas uma das outras, o chão de terra, a ausência de veículos – tudo ao som de sapos, cigarras e mugido de gado -, nos remetia a uma comunidade rural do começo do século passado.
“Ela foi assuntando os tipos de nós, escrevendo como é que nós fazia, como é que nós andava. Agora nós vai ser o resultado. O que ela viu passando aqui com nós vai representar o que nós era. Ela expricava que ia dar um bom resultado, mas o modo de intendê pra eu saber, não intendi não.” – Conta dona Procópia, dando risada, com fala mansa e o linguajar típico deles sobre o trabalho da doutoranda Elivanete.
Cadê a matemática?
A própria Elivanete reconhece que o tema que ela estuda é complexo, e talvez envolva muito mais antropologia e sociologia que a matemática como conhecemos. Na tese de doutorado ela também lança a pergunta acima, para em seguida explicar: “A visão da Etnomatemática adotada não está interessada em validar o conhecimento produzido pela comunidade por meio de categorias de comparação subjacentes aos conhecimentos matemáticos acadêmicos.”
Para entender essa linha de pesquisa, diz, é preciso recorrer primeiro aos fundamentos primeiros da matemática, que seriam os saberes e fazeres das pessoas, as maneiras de medir, de qualificar, de quantificar, de entender os fenômenos da natureza.
“Ao se voltar para eles, é possível ver que a comunidade está