MARXISMO E NATUREZA
JOSÉ WILLIAM VESENTINI
“Vocês me perguntam: que acontece com o saber técnico numa ótica ecológica?(...) Eu diria brevemente que é preciso em primeiro lugar nos desembaraçarmos da idéia da neutralidade da técnica, da técnica como simples instrumento, da falácia segundo a qual poderíamos pôr o mesmo conjunto de meios a serviço de fins diferentes. Vocês sabem que a idéia tradicional da esquerda era de que a técnica que o capitalismo desenvolve ê, em si, neutra (ou mesmo "boa"), que os capitalistas a desviam em seu proveito e bastaria colocá-la a serviço da coletividadef...) A escravidão no trabalho(...) não é somente devida ao fato de que os meios de produção pertencem aos capitalistas; é que estes meios de produção, estas forças de produção, contém em si todo o programa e toda a história do capitalismo.” (CORNELIUS CASTORIADIS)
“Nada foi mais corruptor para a classe operária alemã que a opinião de que ela nadava com a corrente. O desenvolvimento técnico era visto como o declive da corrente, na qual ela supunha estar nadando. Daí só havia um passo para crer que o trabalho industrial, que aparecia sob os traços do progresso técnico, representava uma grande conquista politica(...) O Programa de Gotha já continha elementos dessa confusão. Nele, o trabalho é definido como ‘a fonte de toda a riqueza e toda a civilização’. Esse conceito de trabalho, típico do marxismo vulgar, não examina a questão de como seus produtos podem beneficiar trabalhadores que deles não dispõem. Seu interesse se dirige apenas aos programas na dominação da natureza, e não aos retrocessos na organização da sociedade. Já estão visíveis, nessa concepção, os traços tecnocráticos que mais tarde vão aflorar no fascismo. Entre eles, figura uma concepção da natureza que contrasta sinistramente com as utopias socialistas anteriores a março de 1848(...) Ao conceito corrompido de trabalho corresponde o conceito complementar de natureza, que segundo Dietz-gen, ‘está ali,