Marx
(Do livro “Filósofos na sala de aula”, v. 2, Berlerndis & Vertecchia Editores, São Paulo, 2007, org. Vinicius de Figueiredo, p. 110-154)
Adriano Codato
"A atual sociedade não e um cristal sólido, mas um organismo capaz de mudar e que está em constante processo de mudança."
Karl Marx, do Prefácio à primeira edição de O capital (1867)
É sintomático: o mês de dezembro de 1989 não tem o poder de encantamento que tem outra data importante do século 20: o maio de 1968. A rebelião dos estudantes franceses contra a ordem escolar francesa permanece no imaginário social justamente por ter se convertido em símbolo de uma utopia. "Sejamos realistas, desejemos o impossível": um poder jovem, uma sociedade sem autoridade, um mundo sem classes.
Já a destruição, em 1989, do muro que dividia Berlim entre uma banda capitalista e outra "comunista" foi, para muitos, a prova definitiva de que nosso modo de vida é universal, as disparidades sociais são naturais, as hierarquias são necessárias, as diferenças não são bem-vindas e o poder é legítimo porque é o poder estabelecido. Enfim: o capitalismo é eterno. Nessa onda, um cientista político norte-americano — Francis Fukuyama — chegou mesmo a afirmar que, naquele inverno de 1989, estávamos diante do fim da História. Não haveria, a partir de então, qualquer alternativa satisfatória à democracia liberal. Ela seria a última forma do governo humano. O realismo delirante dessa sentença e seu espírito cínico, aliados à vitória teórica, ideológica e política da doutrina econômica neoliberal na década de 1990, aposentaram por um bom tempo o marxismo, o socialismo e os ideais revolucionários. Entramos então numa época em que a teoria social de Marx perdeu todo o seu prestígio e a hegemonia nos círculos universitários. O comunismo, enfim comprovada sua inviabilidade, deu lugar ao consumismo; e da idéia de Revolução só restou a imagem estilizada — e