Marx e a crise - Socioantropologia
Mauro Luis Iasi1
A atual crise do capitalismo mundial, além das graves consequências que traz para os trabalhadores, acabou por propiciar um efeito direto no debate teórico e acadêmico: uma retomada das ideias de Marx. Por que isso ocorre? Que tipo de previsão foi realizada por Marx que o faz tão maldito, perseguido e tão renitente em nascer e renascer cada vez que o julgam morto em definitivo?
Passamos, nós marxistas, pelas décadas de 1980 e 1990 resistindo no universo acadêmico como se fôssemos dinossauros anacrônicos, insistindo em teses que desmoronam diante das “evidências” pós-modernas, que afirmavam o fim da validade da teoria do valor, o fim da centralidade do trabalho, das classes e, por consequência, das formas organizativas e dos projetos políticos próprios da classe trabalhadora.
Karl Offe2 chegou a afirmar que, depois das ideias de Touraine, Foucault e Gorz, o pensamento marxista não teria mais muita “respeitabilidade científico-social”. O próprio Keynes, que alguns se preparam para resgatar como balsamo benigno contra os males da desregulação, sobre O Capital de Karl Marx decretou:
“Como posso aceitar uma doutrina que estabelece como bíblia, acima e além de qualquer crítica, um manual econômico obsoleto que reconheço não só como cientificamente errôneo, mas também sem interesse ou aplicação para o mundo moderno?” 3
Logo na sequência do mesmo texto, Keynes confirmará sua postura “científica” ao declarar preferir a burguesia que “apesar de suas falhas, representa a prosperidade” e certamente leva as “sementes de todo avanço humano”, criticando aqueles que “preferem a lama ao peixe” e “exaltam o proletariado rude” contra a burguesia.
Parece que a burguesia continua, em sua incansável rota em direção ao avanço humano, cometendo “algumas falhas”, que ameaçam a humanidade para garantir o avanço do capital. O proletariado rude, imerso na lama na qual tem que viver, mais uma vez tenta compreender a natureza