Martinho lutero, um destino
"Continuava imperturbável, na sua tolerância mansa, de quem se não se espantava da ingratidão ou do esquecimento, indispensável à imperfeição humana."1
O texto de Pedro Calmon e enfático na abordagem psicológica. Neste empreendimento, o indivíduo é visto em sí mesmo, não revelando o intrincado jogo social que banha o quotidiano do personagem. As explicações para um determinado comportamento não são formuladas a partir da sociedade, mas do homem em sí, através daquilo que ele possui de próprio. O ser, assim, é visto por intermédio do indivíduo e não através de uma complicada relação entre o particular e o social.
O tipo de descrição histórica exemplificado em Pedro Calmon é característico de historiadores do século XIX, preocupados com a questão da memória nacional e com a necessidade de resgatar e exaltar os homens que, pretensamente, possibilitaram a construção da identidade da nação. Ora, se não são os historiadores do século XIX o tema do artigo, no entanto é importante citá-los a fim de fazer um contraponto entre a abordagem do personagem histórico elaborada por Febvre e esta historiografia.
Nem mesmo pode-se afirmar que a descrição psicológica seja algo característico do século XIX. Segundo Georges Duby, a História, desde seus primórdios, sempre se preocupou com a descrição dos perfis psicológicos. Quando os acontecimentos deixaram de ser pensados pela ótica do mágico, muitos observadores passaram a explicá-los através do psicológico, tentando encontrar os motivos pelos quais um homem se sobressaía dos demais. A História, então se apresentava como um estudo dos comportamentos e das atitudes mentais, mesmo sendo feita de modo ingênuo2. Ao longo do tempo,