Marcha das utopias
Pode-se chamar de Ciclo das Utopias esse que se inicia nos primeiros anos do século XVI, com a divulgação das cartas de Vespúcio, e se encerra com o Manifesto Comunista de Karl Marx e Friedrich Engels em 1848, documento esse que liquida o chamado Socialismo Utópico, aberto com a obra de Morus e que, superado, chega, no entanto até o século XIX, quando o francês Cabet publica a sua Viagem à Icária. Com o Manifesto de Marx e Engels anuncia-se o novo ciclo – o do chamado Socialismo Cientifico. Com ele coincidem os grandes abalos da Europa Liberal do século passado, onde esplendem, entre outras, as figuras de Mazzini e Garibaldi. Marca a brecha decisiva no poder temporal dos papas o fim da Santa Aliança e de seus resíduos reacionários. Foi tão vivo o movimento liberal, e tão sedutora a imagem de uma Europa progressista que o próprio Pio IX se viu envolvido algumas vezes na onda patriótica que unificaria a Itália. Os pontos altos do Ciclo das Utopias foram: no século XVI a miscigenação trazida pelas descobertas; no século XVII a nossa luta contra a Holanda e o Tratado de Westfália, no século XVIII a Revolução Francesa. A importância da guerra holandesa foi ter prefigurado, face a face, duas concepções da vida – a da Reforma e a da Contra Reforma. Os judeus julgando-se povo eleito, detentor exclusivo dos favores de Deus, criaram o racismo. Os árabes, povo exogâmico, criaram a miscigenação. E a luta desenvolvida por milênios, tanto no campo étnico como no campo cultural, foi essa – entre o racismo esterilizador, mas dominante dos judeus e a mistura fecunda e absorvente dos árabes. Aqueles deram longinquamente a Reforma, estes a Contra Reforma. Aqueles produziram Lutero e Calvino. Acredito que o maior erro da catolicidade foi o ato de Clemente XIV, extinguindo a ordem conquistadora de Loiola. O fracasso da realização de uma igreja nacional, entre nós, me faz pensar mais na incapacidade cismática dos