Marab
No relato "Marabá", de Monteiro Lobato, o narrador dá ao leitor uma receita de romance romântico. Ele propõe uma recriação do universo romântico a partir de ícones consagrados: A índia Iná liberta um prisioneiro branco da tribo, foge com ele e gera uma filha, Marabá. O índio Ipojuca se apaixona por Marabá e, depois de perseguidos pela tribo, acabam acolhidos pelo exército português. Ipojuca está ferido, um capitão reconhece Marabá como sendo sua filha e a abraça. Sem entender a cena, Ipojuca flecha e mata a sua jovem esposa, morrendo também de um ferimento.
De todos os contos de Negrinha, “Marabá” talvez seja o que melhor representa a curiosidade de Lobato em brincar com a linguagem cinematográfica, todo ele dividido em quadros e letreiros, como no cinema mudo. Tudo no conto lembra o roteiro cinematográfico, inclusive uma nota encontrada bem no meio do conto:
Este papel de Marabá tem que ser feito por Annette Kellermann. Como, porém, Anette já está madura e Marabá é o que existe de mais botão, torna-se preciso inventar um processo que rejuvenesça de trinta anos a intérprete. (LOBATO, 1951, v. 3, p. 227)
Apresenta nesse pequeno trecho uma preocupação que só caberia ao roteirista: compõe uma personagem que desfruta de tal comunhão com a natureza, que se faz de suma importância achar a atriz adequada para o papel, sobretudo no que diz respeito à construção da verossimilhança que, na linguagem cinematográfica, se traduz na imagem, na aparência física da personagem. Conhece a intérprete adequada, mas sua idade é um empecilho.
A ironia é o fio condutor de todo o conto, construída sobre o confronto entre a arte nova e a arte velha, a proposta de uma nova linguagem – a cinematográfica – e a recuperação dos velhos modelos românticos folhetinescos e fora de moda. Todo o rol marginalizado do romance e da poesia indianista é recuperado: José de Alencar (Guarani e Iracema) e Gonçalves Dias (I-Juca-Pirama” e Marabá). Na nova roupagem cinematográfica,