Maquina de Madeira
Em "A máquina de madeira" Miguel Sanches Neto ficcionaliza a história do padre Francisco João de Azevedo, um sujeito nascido na Paraíba, no início do século XIX, que teria inventado um protótipo do que viriam a ser as primeiras máquinas de escrever. Ele chegou a apresentar sua invenção em uma exposição de produtos nacionais que contou com a presença do Imperador dom Pedro II, em 1861, aonde chegou a ganhar uma premiação importante, mas seus esforços por produzir sua máquina em escala industrial nunca alcançaram êxito. Amparado pela mulher, alguns amigos e a certeza de ter dado o melhor de si Azevedo acaba morrendo esquecido, miseravelmente triste e derrotado. O romance é bem escrito, não é linear, faz uso de várias vozes e diferentes procedimentos narrativos, prendendo a atenção do leitor. Enfim, é um romance honesto e interessante, mas a bem da verdade não empolga, pois o fato do leitor saber que toda aquela melancolia que encontra no livro é uma coisa muito própria do Brasil, que no final as verdadeiras máquinas de escrever foram fabricadas nos Estados Unidos, que o caso do padre Azevedo é apenas mais um dos fracassos brasileiros aborrece em demasia (ao menos aborrece um casmurro como eu). Para uma pessoa que tenha nascido no início do século XXI máquinas de escrever serão objetos tão anacrônicos quantas caldeiras a vapor ou fitas K7. O resultado seria parecido caso Sanches Neto escrevesse um romance futurista no qual um jovem pesquisador brasileiro (pago com dinheiro de programas duvidosos como o recente "Ciência sem fronteiras") descubra uma aplicação fantástica relacionada a nanotecnologia, computação quântica, neurobiologia ou robótica, tente convencer o governo brasileiro da viabilidade econômica de suas ideias e as veja serem implementadas mais rapidamente por laboratórios americanos ou europeus. Como disse noutro dia um amigo, o James, definitivamente a administração pública no Brasil não funciona (Miguel Sanches