Manutenção e mudança na política

Introdução à Ciência Política – Turma E

PROVA 3

A regularidade de tomada de decisão em um contexto de divergências entre as preferências sobre questões públicas é a manifestação mais evidente e direta do poder, mas não é a única. O controle da agenda política e da vontade alheia demonstra a capacidade que alguns tem de influenciar indivíduos para que estes formem preferências contrárias aos seus reais interesses, desarticulando conflitos políticos não apenas na esfera pública, mas também na consciência das pessoas. (MIGUEL, 2003, p 129)
Os interesses não são fixos, ou seja, os indivíduos devem produzir suas próprias preferências mediante a percepção de sua situação no mundo (MIGUEL, 2003, p. 134). Nesse momento de formação é necessário autonomia, que surge através de “(...) decisões alcançadas com uma percepção plena e vívida de oportunidades disponíveis, com referência a toda informação relevante (...)”. (SUNSTEIN, 2009, p. 227)
Uma democracia liberal não deveria, portanto, se pautar pela realização de preferências que tenham sido formadas a partir de condições iniciais desiguais. Em um ambiente de resolução de conflito onde todos são tomados como iguais a despeito das diferenças construídas socialmente, os grupos que tem menor autonomia na constituição de suas preferências serão levados a tomar para si as que estão mais em foco, prejudicando a defesa dos interesses reais. (SUNSTEIN, 2009, pp. 225-229)
Posto que indivíduos com maior prestigio e/ou condições materiais tem mais facilidade em fazer seus interesses políticos valerem devido a formação não-autônoma de preferências por parte dos grupos desfavorecidos social e economicamente, o voto se apresenta como uma faca de dois gumes. Por um lado, ele estabelece para todos uma participação mínima, mas ao mesmo tempo também coloca um teto nessa mesma participação, criando um monopólio da mesma e diminuindo a capacidade de mobilização dos grupos desfavorecidos,