manuscrito encontrado em accra de paulo coelho
Paulo Coelho
Manuscrito encontrado em
Accra
Ó Maria, concebida sem pecado, rogai por nós, que recorremos a Vós.
Amém.
Para N.S.R.M., em agradecimento ao milagre.
Filhas de Jerusalém, não choreis por mim; chorai antes por vós mesmas, e por vossos filhos.
Lucas 23:28
PREFÁCIO E SAUDAÇÃO
Em dezembro de 1945, dois irmãos que buscavam um lugar de descanso encontraram uma urna cheia de papiros numa caverna na região de Hamra Dom, no Alto Egito. Em vez de avisarem às autoridades locais – como exigia a lei –, resolveram vendê-los pouco a pouco no mercado de antiguidades, evitando desta maneira chamar a atenção do governo. A mãe dos rapazes, com medo de “energias negativas”, queimou vários dos papiros recém-descobertos.
No ano seguinte, por razões que a história não registrou, os irmãos brigaram entre si. Atribuindo isso às tais “energias negativas”, a mãe entregou os manuscritos a um sacerdote, que vendeu um deles para o
Museu Copta do Cairo. Ali os pergaminhos ganharam o nome que têm até hoje: Manuscritos de Nag Hammadi (uma referência à cidade mais próxima das cavernas onde foram achados). Um dos peritos do museu, o historiador religioso Jean Doresse, entendeu a importância da descoberta, citando-a pela primeira vez em uma publicação de 1948.
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Os outros pergaminhos começaram a aparecer no mercado negro. Em pouco tempo o governo egípcio se deu conta da importância da descoberta e tentou impedir que os manuscritos saíssem do país. Logo depois da revolução de 1952, a maior parte do material foi entregue ao
Museu Copta do Cairo e declarado patrimônio nacional. Apenas um texto escapou ao cerco, aparecendo em um antiquário belga. Houve inúteis tentativas de vendê-lo em Nova York e Paris, até que foi finalmente adquirido pelo Instituto Carl Jung, em 1951. Com a morte do famoso psicanalista, o pergaminho, agora conhecido como Códex
Jung, retornou ao Cairo, onde hoje estão