Manifesto Comunista
Por razões conjunturais, Marx e Engels privilegiaram, nesse entrelaçamento, o aspecto dinâmico, a constância da transitoriedade, materializado na frase-emblema: “Tudo que é sólido desmancha no ar”. Muito do interesse e parte da recepção do Manifesto explicam-se por essa ênfase. Em períodos de estabilização e consolidação do capital, seja entre 1850 e 1870 ou no quase meio século que se estende de 1950 a 1989, o marxismo volta-se para a compreensão da estática imanente à dinâmica social, concebendo a sociedade como uma segunda natureza e debruçando-se sobre o sempre-igual de fenômenos como o fetichismo da mercadoria. Hoje, no entanto, quando o engessamento do capitalismo (provocado por uma conjunção especial de fatores: conflito entre blocos e guerra fria, estabelecimento nos países centrais de um Estado do bem-estar social, predomínio incontestável da hegemonia norte-americana) parece ter chegado ao fim, muito do que se diz no Manifesto volta a ter uma inesperada atualidade.
Isso não significa que a análise e a crítica do fetichismo da mercadoria e da “naturalização” da vida social deva ceder lugar a um retorno puro e simples às formas antiquadas de “luta de classe”.