Manifesto Comunista

2118 palavras 9 páginas
No Manifesto do partido comunista, Marx e Engels apresentam, pela primeira vez, o mundo burguês como uma unidade contraditória entre fatores dinâmicos e invariância estática. O paradoxo de uma sociedade que não pode existir sem revolucionar continuamente os instrumentos de produção e, com eles, o conjunto das relações sociais é próprio do mundo moderno. Enquanto os antigos modos de produção assentavam-se, à maneira de uma tradição, na manutenção e conservação de relações fixas e cristalizadas, a sociedade burguesa se reproduz, mantendo-se idêntica, apenas ao preço de uma contínua transformação que, acarretando a obsolescência e uma incontrolável destruição de toda estrutura de produção existente em um determinado momento, subverte de forma incessante inclusive o cenário histórico e político.

Por razões conjunturais, Marx e Engels privilegiaram, nesse entrelaçamento, o aspecto dinâmico, a constância da transitoriedade, materializado na frase-emblema: “Tudo que é sólido desmancha no ar”. Muito do interesse e parte da recepção do Manifesto explicam-se por essa ênfase. Em períodos de estabilização e consolidação do capital, seja entre 1850 e 1870 ou no quase meio século que se estende de 1950 a 1989, o marxismo volta-se para a compreensão da estática imanente à dinâmica social, concebendo a sociedade como uma segunda natureza e debruçando-se sobre o sempre-igual de fenômenos como o fetichismo da mercadoria. Hoje, no entanto, quando o engessamento do capitalismo (provocado por uma conjunção especial de fatores: conflito entre blocos e guerra fria, estabelecimento nos países centrais de um Estado do bem-estar social, predomínio incontestável da hegemonia norte-americana) parece ter chegado ao fim, muito do que se diz no Manifesto volta a ter uma inesperada atualidade.

Isso não significa que a análise e a crítica do fetichismo da mercadoria e da “naturalização” da vida social deva ceder lugar a um retorno puro e simples às formas antiquadas de “luta de classe”.

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