Manifestações
Sobre as manifestações populares em todo o Brasil, que ganharam destaque na mídia nacional e internacional: isso me lembra o título de um livro (muito bom, por sinal) do escritor colombiano Gabriel García Márquez – “Crônica de Uma Morte Anunciada”.
O título vem a calhar porque, do jeito que a sacanagem persiste em imperar com toda força na sociedade contemporânea, era muito esperada uma reação coletiva e indignada. E dessa reação haverá um óbito evidente e muito celebrado. Aposto nisso.
No caso, vejo anunciada a morte da passividade brasileira, da acomodação popular, das diretrizes cegas de alguns que beneficiam outros poucos, da premissa que a “Lei de Gerson” rege esse povo e esse país. Um velho Brasil será enterrado. Algo muito melhor lhe tomará o lugar, é fato. Tem de ser assim.
As multidões nas ruas, buscando tomar o Congresso, bradando aos quatro ventos por mudanças estruturais imediatas, contestam – como se sabe – mais do que os centavos extras cobrados em passagens de ônibus nas principais capitais.
Além do que já foi listado no terceiro parágrafo desse texto, da desordem interna que nos revolta, há uma vergonha nossa de ordem internacional.
Vivemos em desacordo com o deslumbre midiático que adorna eventos mundiais aqui feitos para agradar turistas, mas realizados às custas de superfaturamentos e trambicagens de todo tipo, onde todo mundo sente na pele. Há uma vergonha compartilhada entre muitos de estarmos sempre em evidência lá fora por escândalos de corrupção, desigualdades sociais e incompetências crônicas em diversos setores de poder da sociedade. Há um desespero em ver o Brasil aclamado como terra de recursos abundantes, lar ideal, cartão postal do mundo, em meio a uma realidade de analfabetismo, pobreza e horizontes fechados para a maior parte da população tupiniquim.
É tudo o que foi colocado até aqui que justifica o barulho das massas. Tudo isso e mais um pouco.