Manifestações de junho de 2013
Jornal da Unicamp – Por que o senhor deu ao livro o nome
“Choque de Democracia”?
MARCOS NOBRE – Há um discurso no Brasil, durante décadas, desde
1989, no qual essa palavra “choque” vem sendo usada. Houve o “choque de capitalismo”, o “choque de gestão” e, durante as manifestações, houve a “tropa de choque”. A palavra é usada sempre num sentido que não inclui a democracia, essas forças vivas da sociedade, como se fosse necessário ao sistema político ter um choque para se organizar.
JU – E agora ocorreu um choque no sentido contrário?
NOBRE – Exatamente isso. Queria usar essa ideia. Esse choque veio de onde não esperavam. Trata-se, justamente, de um choque de democracia. Não é um choque de gestão, não é um choque de capitalismo nem tropa de choque. Tínhamos um travamento do sistema político que foi rompido com esse choque.
JU – E por que as manifestações foram chamadas de “Revoltas de Junho”? Que elementos essas mobilizações possuem para serem consideradas revoltas?
NOBRE – Existem canais que são de protesto. Protestos são coisas que ocorrem normalmente em uma democracia. Então, a expressão mais óbvia seria: “protestos de junho”. Mas, na verdade, é um pouco mais que isso. É o fato de que a sociedade não estava encontrando caminhos para expressar o seu protesto, a sua insatisfação, da maneira como o sistema político estava operando, e se revolta também contra essa falta de canais de expressão. Quando aconteceu a repressão policial, as pessoas se disseram: ‘não conseguimos mais influenciar esse retorno político, de maneira alguma; ele se fecha nele mesmo, funciona segundo suas próprias regras e não presta conta à sociedade; e quando tentamos, o sistema quer, ainda por cima, soltar a polícia’.
É uma revolta pelo direito de se manifestar, pela abertura de canais entre a sociedade e o sistema político. Por isso, é mais do que um protesto. Coloquei no plural