Manifestação afro americana
Nas três últimas décadas do século XIX, o imperialismo, triunfante na cena mundial a partir da África dilacerada, estimulava a expansão européia como objetivo político supremo e impunha a noção da superioridade da raça branca, atrelada a uma sofisticada burocracia, exportada da Europa para os quatro cantos do globo, como princípio de dominação. Considerações e teorizações raciais tinham então uma função central no tabuleiro de xadrez político a partir do qual a Europa reorganizava o mundo, e tornavam-se fundamento do poder instituído. Dali emanava a lógica racional das relações entre dominadores e dominados, entre a Civilização e a Barbárie. Alguns dos mentores e executores do domínio imperial sentiam-se na verdade as God - nothing less - segundo a lúcida autocrítica de Lord Cromer, referindo-se, naquele momento, a Cecil Rhodes. O mesmo Rhodes, por sua vez, declarava impavidamente, imbuído de patriotismo britânico e de fervor expansionista: I would annex the planets if I could. [1]
Mas as duas grandes guerras que esfacelaram a Europa, afetando no seu curso o mundo inteiro, contribuíram para o despertar das minorias e para dramáticos movimentos internacionais de refugiados. Enfraquecia-se o Estado-Nação, juntamente com a fé vitoriana na estabilidade e no bom-senso das instituições políticas ocidentais enquanto salvaguarda dos povos. Desde a década de 30, ruía afinal a grande construção imperialista que teve o seu golpe de morte, conforme lembra Hannah Arendt, em 1947, com a independência da Índia do jugo britânico: dali em diante, o mundo contemplou os estertores da agonia daquele mundo colonial anteriormente tão vasto que, em suas somadas vastidões, o sol jamais poderia se pôr - conforme haviam se vangloriado os ingleses. Na Europa, a própria ideologia de superioridade européia voltara afinal seus ferrões contra si própria, enlouquecidamente exacerbada nos descalabros e desastres do nazismo e de outros totalitarismos.
Do ponto de vista cultural,