Acontece, porém, que o maneirismo, primeiro valorizado na obra de pintores italianos que se afastavam decadentemente das premissas classicizantes de Rafael (que, sob certos aspectos, é um maneirista), como Pontorno, Bronzino, Parmigianino, e eram vistos como enlanguescimento dos ideais clássicos, transitou desses estreitos e locais limites históricos para limites mais vastos, sem perder — e antes apurando — as suas características periodológicas. Tudo se preparava para a conceituação do Maneirismo como uma das mais decisivas épocas da cultura europeia, algo que se destacava do Renascimento, e não era por forma alguma um pré- barroco. Em Portugal, o Renascimento é algo que, iniciado com a laicização cortesã- administrativa da cultura, e com as navegações e conquistas, vinha processando-se desde o início do séc. XV. Esse movimento, que culmina no estabelecimento de um Império em que a religião deve submeter-se aos interesses do Estado (e, com Frederico II, de Hohenstauffen, é, no séc. XIII isto mesmo o princípio do fim da Europa feudal e teocrática), exauriu-se nas contradições económicas patentes em meados do séc. XVI. A segunda geração dos tidos em Portugal por «renascentes» oficiais (nas histórias literárias), que é a de Camões e de António Ferreira, já se cinde entre uma extremada recusa à tradição medieval, recusa que caracteriza o afã clássico da agonia do Renascimento (e Ferreira comporá a mais bela peça do classicismo europeu), e uma desesperada nostalgia do medievalismo ecuménico que (como em Spencer e em Tasso, mais jovens do que ele trinta e vinte anos, respectivamente) será a obsessão épica de Camões. Por volta de 1620, o maneirismo que se inicia com Camões e os tão mal conhecidos poetas confundidos com ele ou tidos por servis imitadores seus, entrou em declínio. Rodrigues Lobo e Manuel da Veiga Tagarro, este mais tardio, serão os últimos expoentes delicados desse período que, no espírito de Francisco Manuel de Melo lutará ainda com o