Mal-estar na Modernidade Ensaios de Sergio Paulo Rouanet
Ensaios
Sérgio Paulo Rouanet
1. Iluminismo ou Barbárie
1.2 A crise da Civilização Moderna
O projeto civilizatório da modernidade tem como ingredientes a universalidade, o individualismo e a autonomia. A primeira significa que ela visa todos os seres humanos, independente de barreiras nacionais, étnicas ou culturais. O segundo significa que os seres humanos modernos são vistos como pessoas concretas e não como integrantes de uma coletividade. Já a autonomia presume que essas pessoas são capazes de pensarem por si mesmas, sem a tutela de uma religião ou ideologia.
O universalismo vem sendo destruído pelos particularismos – nacionais, culturais, raciais e religiosos – e vem dando espaço para o racismo e para a xenofobia. O individualismo se perde à medida que o conformismo dentro do coletivo cresce. A autonomia intelectual é quebrada. A autonomia política é barrada pelas ditaduras ou transformada em uma cena teatral que muda de 4 em 4 anos. A autonomia econômica é refutada pela boa parte da população que vive na miséria.
A barbárie: recusa dos próprios princípios civilizatórios propostos pela modernidade. O capitalismo é acusado de gerar desemprego e de exploração, enquanto o socialismo fracassou em suas promessas de eliminar injustiças sociais.
Existem três distintas atitudes a serem tomadas: 1. Deixar em paz os bárbaros (manter o sistema como ele é). 2. Lutar por um projeto antimoderno: particularismo, holismo (totalidade diferente da soma das partes) e a religião e a autoridade acima da liberdade. 3. Civilização neomoderna, que visaria manter a modernidade e corrigir suas patologias – projeto que corresponde ao que o autor chama de Iluminismo (corrente de ideias dos enciclopedistas e os herdeiros dessas, liberalismo e socialismo, não o momento histórico, nomeado nesta obra de “ilustração”).
A associação do momento histórico (ilustração), do socialismo e do liberalismo constituiria parte da concepção iluminista.
1.3 A