Mais estranho que ficção
Há algo de especial em Mais Estranho que a Ficção: o filme tem suas falhas óbvias, um desfecho relativamente decepcionante e ao menos uma personagem completamente desnecessária (vivida por Queen Latifah), mas, apesar disso, consegue desenvolver sua história de forma sempre interessante e com uma sensibilidade que certamente surpreenderá aqueles que forem ao cinema esperando assistir a uma comédia (algo que este longa não é). Criando um universo que se move de acordo com suas próprias regras e mergulhado em auto-referências, Mais Estranho que a Ficção poderia perfeitamente figurar em uma antologia que contasse com obras como O Show de Truman, Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças e Adaptação – e, mesmo que levemente inferior a estes títulos, o novo trabalho do diretor Marc Forster não faria feio ao lado dos “colegas”.
Escrito por Zach Helm, o roteiro conta a história de Harold Crick (Ferrell), um auditor da Receita Federal que, certo dia, passa a ouvir uma voz que parece narrar todas as suas ações e pensamentos. Levando uma vida entediante cujo momento mais dramático ocorreu ao ser abandonado pela noiva (que, é claro, fugiu com um atuário), Harold busca a ajuda de um mestre em literatura, pois acredita ser o personagem de alguma narração – que se torna bem mais tensa quando ele descobre que a “autora” pretende matá-lo brevemente. Infelizmente, ele tem razão: na verdade, a voz que o sujeito ouve pertence à célebre escritora Kay Eiffel (Thompson), famosa por suas tragédias e que não tem a menor idéia de que Harold é um homem real que pode escutá-la.
Utilizando a metalinguagem como base de sua narrativa, o filme consegue algo raro: fazer uso da narração em off com inteligência e de maneira sempre orgânica à trama. A partir do instante em que começa a ouvir a voz de Eiffel, o protagonista percebe que pode não ser dono de