Madame bovary
Flaubert dividiu o livro em três partes, que são narradas por um suposto colega de estudos de seu marido. Cada uma delas trata de fases distintas da vida da personagem. Na primeira, a moça sonhadora que vive em uma fazenda com o pai, casa-se com o jovem médico da província e se decepciona com a vida que ele lhe oferece. Na segunda parte, ocorre à mudança para outra cidade e a maternidade, a descoberta da primeira paixão. Na terceira, a derrota de todos os sonhos e a sordidez da ruína moral e patrimonial.
Embora o romance tenha sido escrito no século XIX, continua atual, porque descreve a alma feminina com clareza e sem piedade. O narrador não tem piedade também com as outras personagens, despindo-as de qualquer vestígio de romantismo. Na primeira parte, o livro começa por tratar da vida de Charles, o marido de Emma, e é para ele que o autor volta suas luzes. Na segunda parte, os habitantes da nova cidade para onde o casal se muda “roubam a cena” e são descritos de forma fria, dissecados e expostos. Flaubert inaugurou, na França de então, uma literatura que hoje é comum, mas que para os padrões da época foi causa de grande escândalo.
Emma, a personagem central, é uma mulher igual a todas. A falta de piedade do narrador não a torna nem patética, nem vulgar, nem mesmo uma prostituta aos olhos da leitora do século XXI. Seus anseios pelo romance, pela paixão, são comuns às mulheres jovens de todas as classes sociais, hoje como então. Seu desejo