Madalena
“Madalena” e a Mimese: A Representação do
Real em Miguel Torga (1996)
Madalena and Mimesis: The Representation of the
Sensible World in Miguel Torga (1996)
Gleissy Kelly dos Santos Bueno1
Célia Regina Delácio Fernandes2
RESUMO: O presente artigo tem por objetivo analisar a obra
Bichos, mais especificamente, o conto “Madalena”, do escritor português Miguel Torga (1996), à luz dos conceitos de mimese.
Frisa-se que, na era clássica, a mimese era vista como uma reprodução dos objetos existentes; assim, a mimese imitava o real. Nos dias atuais, a mimese passa a designar uma representação da realidade, conforme propõe Auerbach, em
Mimesis (1987), a qual será enfatizada neste trabalho. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, que tem como referencial os seguintes autores: Auerbach (1987), Aristóteles (1994-1985),
Compagnon (2003), Genette (1976), Gonçalves (1995), Pavani e
Machado (2003), Phillipe (1998), Platão (1993) e Ricoeur
(1994).
PALAVRAS-CHAVE: Mimese. Representação. Madalena.
Miguel Torga. Real.
1
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Literatura e Práticas Culturais da
Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).
2
Doutora em Teoria Literária pela Universidade de Campinas (UNICAMP) e docente do curso de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal da Grande Dourados
(UFGD).
Gláuks
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Introdução palavra mimese é originária do grego e
A “imitação”. Em latim, escreve-se imitatio. significa
Designa
a cópia, reprodução ou representação da natureza, que constitui o fundamento de toda a arte na filosofia aristotélica. Os conceitos de mimese e poesia são debatidos tanto na Poética de
Aristóteles, quanto na filosofia de Platão e no pensamento teórico posterior sobre estética, referindo-se à criação da obra de arte e à forma como reproduz objetos pré-existentes. Na visão de
Aristóteles, a mimese distingue o ser humano dos animais, uma vez que a atividade humana