Macunaima
Peça de Marcos Barbosa
Escrita especialmente para a montagem do grupo Expressões Humanas a partir da rapsódia Macunaíma de Mário de Andrade
PERSONAGENS
Macunaíma
Jiguê
Piaimã
Mário de Andrade
Mãe
Iriqui
Currupira
Caipora
Ci
Naipi
Capei
Senhora
Malandro
Prostituta 1
Prostituta 2
Locutor
Vei
Filha de Vei 1
Filha de Vei 2
Filha de Piaimã
Repórter
Uiara
MACUNAÍMA
Cena 1
Numa rede, na varanda de uma chácara, Mário de Andrade escreve vigorosamente em um caderno, enquanto fuma.
Muito pensativo e absorto em seu afazer, ele trabalha com ímpeto: risca, anota, desiste, tira os óculos, limpa o suor da testa, traga outra vez o cigarro, pensa por alguns segundos e logo lembra de qualquer coisa que o faz voltar ao frenético ritmo de produção inicial. Este vaivém parece não acabar nunca.
Há ainda na rede outros cadernos aos quais ele retorna de vez em quando para conferir algo escrito anteriormente.
Após cada pausa, parece voltar com mais afinco à escrita. A impressão que se tem é de que ele há muito tempo está envolvido com o trabalho.
Numa das pausas de escrita, dirige-se ao público:
MÁRIO DE ANDRADE. Eu ainda lembro. Lembro, sim. Ele chegou num
16 de dezembro, em 1926. É dezembro.
Ouvem-se pancadas de um ogã. Poucas pancadas, que subitamente desaparecem, Mário de Andrade não se apercebe delas.
MÁRIO DE ANDRADE. E não veio de surpresa, não. Me preparei pra visita. Me preparei muitos anos, mas não tem jeito. Me assustei, me assarapantei. Muito, até. Admito. Ainda mais eu, que no geral sou perfeitamente consciente de tudo que pratico. Palavra de honra, tem erro que faço conscientemente porque me convenço que ele carece de existir. O ano é
1926.
Por um tempo Mário de Andrade volta aos cadernos e ao cigarro, neste ínterim, um batuque e uma canção começam a ser ouvidos ao longe.
MÁRIO DE ANDRADE. (após um tempo, desistindo mais uma vez da escrita) Me botei pra chácara de um tio em Araraquara, só com os livros indispensáveis para a criação seguir como eu