Macabea a a hora da estrela
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A todo instante ele alerta o leitor para a nossa responsabilidade em relação a outras mulheres como Macabéa. A escritora Clarice Lispector cria um escritor-narrador para, a partir deste, mostrar a posição confortável do contraste entre a sua profissão (escritora) e a condição da massa, existente na figura de Macabéa. Onde estará a verdade? Assim como Schopenhauer, Clarice Lispector também, de soslaio, lançará seu olhar sobre Macabéa. Um ângulo discreto e mudo, como afirma o narrador: "até o que escrevo um outro escreveria" (Lispector, 1998, p. 14). Seu conforto será observar, retratar a fragilidade desta nordestina, para por meio dela fazer ouvir sobre a questão deste povo. Ou seja, a 'deformação' estereotipada da nordestina se dá a partir da relação do narrador Rodrigo S. M. com a sua criatura, num distanciamento oportuno do homem a falar da mulher nessas condições de miserabilidade. Para ser fiel à verdade dessa mulher, o narrador optará por retratar a personagem de forma a degradá-la: "Quero neste instante falar da nordestina. É o seguinte: ela como uma cadela vadia era teleguiada exclusivamente por si mesma. Pois se reduzira a si" (Lispector, 1998, p. 18).
Esta relação evidencia a impossibilidade de não aviltar o ser de Macabéa. A interferência intelectual aqui é de ordem moral, seguida de perto pelo autor-narrador, como sendo o reflexo de toda uma hie-rarquia do pensamento sulista em nosso país. A percepção do 'eu' da imigrante atingirá uma transparência ainda maior, na perspectiva do autor-narrador, quando este adentrar pelos fatores sociais apresentados no decorrer da história. A todo instante ele alerta o leitor para a nossa responsabilidade em relação a outras mulheres como Macabéa.