Lívia Natália
Lívia Maria Natália de Souza Santos nasceu em Salvador – BA em 1979. Consagrada a Osun e Odé no Terreiro Ilê Asé Obanan, a vivência no Candomblé de fundamento Ketu é um dos temas mais fortes de sua escrita, na qual aparecem também temáticas relativas à vivência da mulher negra com seu corpo, cabelos e todos os signos etnicorraciais que atravessam, buscando subverter conceitos e reinventar modos de ser.
Lívia Natália é Mestre (2005) e Doutora (2008) em Teorias e Crítica da Literatura e da Cultura pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Atualmente é Professora Adjunta do setor de Teoria da Literatura da UFBA, onde coordena os grupos de pesquisa Derivas da Subjetividade na Escrita Contemporânea, no qual pesquisa literatura contemporânea escrita em Blogues, e Corpus Dissidente: Poéticas da Subalternidade em escritas e estéticas da diferença, no qual se dedica a estudar a Literatura Negra escrita por mulheres no Brasil e nos PALOP, com recorte em gênero, raça e sexualidades.
Metonímia
Meu pai colocou meu nome num barquinho que comprou.
É miúdo.
Uma insignificância no meio do oceano de vaga vaga.
É reles.
De uma cruel e desleixada vileza.
De uma pequenez quase lírica.
É reles.
Mal cabem nele dois homens e o isopor para a pescaria.
Mal cabem dois homens.
Talvez somente ele – solitário – e o isopor.
Mas, como no milagre, o barco que leva o meu nome caminha sobre as águas.
Onde o espelho?
Para minhas irmãs negras
Este cabelo que lhe vai liso sobre a carapinha, é o simulacro infeliz do que não és.
(Ao vestir-se com a pele do inimigo o que de ti silencia e se perde?
Quantos animais conheces que assim o fazem senão para reagir?)
Este cabelo pesa desfeito sobre sua carapinha.
Veste-a como um manto impuro abafando o preto caracolado sobre si dobrado: filosófico. Os fios se endurecem como cavalos açoitados, e bradam da morbidez desta couraça que te mascara branca.
Este cabelo requeimado e grotesco sepulta o