Lygia clark
Vejo a Lygia Clark como uma revolucionária, ela e outros artistas com quem trabalhou abriram novas perspectivas para a arte contemporânea brasileira e para a arte global. Tentando superar os limites entre obra e vida, rejeitou a ortodoxia do concretismo, fundou um novo movimento, experimentou a body art, adentrou a arte pluri-sensorial e, vivendo no limiar entre a psicanálise e a expressão artística, abdicou do próprio rótulo de artista, exigindo ser chamada de "propositora". Com o objetivo de estabelecer uma nova linguagem abstrata na arte brasileira fundou o neoconcretismo em 1959 junto com nomes como Ferreira Gullar, Reinaldo Jardim, Theon Spanudis, Amílcar de Castro, Franz Weissmann e Lígia Page.
É interessante ver como nas suas primeiras pinturas, entre 1954 e 1958, mudou a natureza e o sentido do quadro. Estendeu a cor até à moldura, anulando-a ou até mesmo trazendo-a para dentro do quadro, criando obras como Superfícies Modulares e os Contra-Relevos.
No período de 1960 a 1964, surgiu com os seus Bichos: chapas de metal com dobradiças são esculturas articuladas manipuladas pelo público. Com eles Lygia dava a entender que buscava algo: a participação do espectador no seu trabalho, por meio de objectos sensoriais (sacos plásticos, pedras, conchas, luvas entre outros materiais), para despertar sensações e fantasias (tal como Hélio Oiticica). Com estas obras ela queria:
“Uma integração total, existencial, é estabelecida entre ele e nós. (...) Na realidade, trata-se de um diálogo em que o Bicho reagiu às estimulações do participante. [Portanto], esta relação entre obra e espectador – antigamente virtual – torna-se efetiva” (Clark, 2006)
A fase mais interessante é quando se dá uma mudança na forma de encarar a obra resultante das suas convicções e do questionamento dos “para quês” do seu trabalho. Em 1963, com a proposição Caminhando, prossegue até à completa