Lusiadas
Cortando vão as naus a larga via
Do mar ingente pera a pátria amada,
Desejando prover-se de água fria
Pera a grande viagem prolongada,
Quando, juntas, com súbita alegria,
Houveram vista da Ilha namorada,
Rompendo pelo céu a mãe fermosa
De Menónio, suave e deleitosa.
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De longe a Ilha viram, fresca e bela,
Que Vénus pelas ondas lha levava
(Bem como o vento leva branca vela)
Pera onde a forte armada se enxergava;
Que, por que não passassem, sem que nela
Tomassem porto, como desejava,
Pera onde as naus navegam a movia
A Acidália, que tudo, enfim, podia.
Aspetos fónicos:
- As estâncias são oitavas, tendo portanto oito versos; a rima é cruzada nos seis primeiros versos e emparelhada nos dois últimos (AB AB AB CC);
- São oitavas decassílabas - Chama-se decassílabo o verso com dez sílabas poéticas (sílabas métricas)
- Lírico
Aspetos morfossintáticos:
- Assíndeto: Ex: “Quando, juntas, com súbita alegria” – suspensão de elementos de ligação (as conjunções coordenativas copulativas) entre diversas palavras de uma frase ou entre varias frases, conferindo ao enunciado um ritmo rápido e energético.
Aspetos semânticos:
- Metáfora: “a larga via” – o grande mar
- Perífrase: “mãe fermosa de Menónio” – aurora
- Sinestesia: “fresca e bela” – visão e tacto
- Comparação: “ (bem como o vento leva branca vela)”
Palavras desconhecidas:
- “Ingente” – enorme
- “mãi” – mãe
- “Acidália”- Vénus
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Que as imortalidades que fingia
A antiguidade, que os Ilustres ama,
Lá no estelante Olimpo, a quem subia
Sobre as asas ínclitas da Fama,
Por obras valorosas que fazia,
Pelo trabalho imenso que se chama
Caminho da virtude, alto e fragoso,
Mas, no fim, doce, alegre e deleitoso,
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Não eram senão prémios que reparte,
Por feitos imortais e soberanos,
O mundo cos varões que esforço e arte
Divinos os fizeram, sendo humanos.
Que Júpiter, Mercúrio, Febo e Marte,
Eneas e Quirino e os dous Tebanos,
Ceres, Palas e Juno com