Luis Felipe Miguel
Elementos para uma teoria ampliada da representação política*
Luis Felipe Miguel
Nos últimos trinta anos, a democracia eleitoral viveu uma fantástica expansão no mundo – aquilo que Samuel Huntington rotulou como “terceira onda” democratizadora, com o colapso de dezenas de regimes autoritários e totalitários. No entanto, um outro processo, contraditório, ocorreu de forma simultânea: a deterioração da adesão popular às
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Uma versão anterior deste artigo foi apresentada no
Seminário Internacional de Ciência Política, realizado em Porto Alegre, de 3 a 5 de outubro de 2001. O texto já estava pronto quando me chamaram a atenção para um artigo de Wanderley Guilherme dos Santos, intitulado “Poliarquia em 3-D” (Dados, 41 (2): 207281, Rio de Janeiro, 1998). Registro aqui a coincidência, que se limita ao título. E quero agradeçer os comentários ao texto, de Regina Dalcastagnè e dos pareceristas anônimos da RBCS, além das discussões com os alunos do curso “Representação Política”, na pós-graduação em Ciência Política da UnB.
Artigo recebido em agosto/2001.
Aprovado em maio/2002.
instituições representativas. É possível detectar uma crise do sentimento de estar representado, que compromete os laços que idealmente deveriam ligar os eleitores a parlamentares, candidatos, partidos e, de forma mais genérica, aos poderes constitucionais. O fenômeno ocorre por toda a parte, de maneira menos ou mais acentuada, atingindo novas e velhas democracias eleitorais.
Neste artigo, sustento que a recuperação dos mecanismos representativos depende de uma maior compreensão do sentido da própria representação. Na medida em que os grupos subalternos obtêm êxito na busca da inclusão política ou, ao menos, demonstram uma consciência mais aguda do problema, as tensões presentes no campo político se ampliam. Um modelo representativo inclusivo precisa contemplar com mais cuidado as questões ligadas à formação da agenda, ao acesso aos