Logistica
A sociedade brasileira vem terceirizando, histórico-culturalmente, seus eventuais fracassos e suas responsabilidades, atribuindo-os ao Estado, ao sistema político-econômico, ao diretor e ao professor da escola, ao síndico do prédio ou ao destino, isentando-se da obrigação de pensar e agir, da urgência em mudar seus hábitos e valores e de transformar a si e ao seu mundo, negando-se a assumir definitivamente seu papel diante das necessidades contemporâneas, em especial no que diz respeito ao ensino público de educação básica – educação infantil, ensino fundamental e ensino médio. Para Squizato1 (2006), a falta de indignação da sociedade diante da baixa qualidade da escola pública também faz parte do problema educacional no Brasil.
Por outro lado, e seguindo as principais estratégias neoliberais, verifica-se a transferência, cada vez maior, da responsabilidade e dos deveres legais do poder público à sociedade, o que resulta em uma perigosa privatização do papel do Estado, encontrando nas escolas públicas um território favorável e subserviente à consolidação dessa prática. Freire2 (1996, p. 19) posiciona-se permanentemente crítico à malvadez neoliberal, à sua cínica ideologia fatalista e imobilizaste, à sua recusa inflexível ao sonho e à insistência no convencimento de que nada se pode fazer "contra a realidade social que, de histórica e cultural, passa a ser ou a virar 'quase natural'."
Com isso, a sociedade civil vem aos poucos ocupando espaços tradicionalmente vinculados ao Estado, como é o caso do programa Amigos da Escola, que busca na valorização do voluntariado a adesão da população para suprir as deficiências do poder público e encontra campo fértil na rede pública de ensino fundamental, atualmente com 30 milhões de alunos matriculados1 e 1,4 milhões de funções docentes em aproximadamente 140 mil escolas, segundo o Censo Escolar de 2006 realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas