LOGICA CLÁSSICA VERSUS PARACONSISTENTE
Na lógica paraconsistente, pesquisadores aceitam contradições para criar máquinas mais inteligentes e até óculos para deficientes visuais
Uma mulher (vamos chamá-la de Andresa) está lendo ao ar livre, mas levanta os olhos do livro e nota um arco-íris.
Ela repara nas faixas coloridas: o arco-íris começa (ou termina) numa faixa vermelha, que vai clareando até virar uma faixa amarela. Andresa acha que o meio da primeira faixa é vermelho, e que o meio da segunda faixa é amarelo, mas e as transições? Em que ponto exato ocorre a transição do vermelho para o amarelo, isto é, em que ponto exato o vermelho deixa de ser vermelho e o amarelo começa a ser amarelo? Se Andresa usa a lógica clássica para modelar esse problema, não pode ir longe, porque a lógica clássica só lida com problemas do tipo “sim” ou
“não”. Se algo é vermelho, ele só pode ser vermelho.
Andresa não iria longe com a lógica clássica mesmo que recorresse a medidores sofisticados. Se num ponto a faixa do arco-íris contém 98% de amarelo e 2% de vermelho, ela é amarela ou vermelha? A natureza é assim muitas vezes: ela vai da brisa ao furacão em transições suaves. “Não podemos nos limitar aos princípios binários da lógica clássica, do verdadeiro ou falso, do sim ou não, do é ou não é”, diz o professor Jair Minoro Abe, líder do grupo de pesquisas sobre lógica paraconsistente e inteligência artificial da Universidade Paulista (Unip) e coordenador do grupo de lógica e teoria da ciência no Instituto de Estudos Avançados da USP. Abe estuda as aplicações da lógica paraconsistente em áreas como engenharia e biomedicina — e a palavra-chave é paraconsistente, ou seja, além da consistência da lógica clássica.
Na lógica clássica, se um sistema permite a criação de uma afirmação válida, e se essa afirmação válida leva a uma contradição, então todo o sistema perde consistência. Em termos técnicos, ele se torna trivial, isto é, ele permite provar a verdade de qualquer