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Os órfãos brasileiros são órfãos de pais vivos. Homens e mulheres que maltrataram os filhos porque também já foram maltratados. Pela miséria, pelo desemprego e pela doença. Deixam seus meninos com a promessa de voltar, mas nunca retornam. Cerca de 40% das famílias, jamais apareceu na insitituição.
Nas próximas sete páginas, o leitor será apresentado a esses meninos e meninas. Sentirá asco, raiva e vergonha. Conhecerá a agonia de crianças e adolescentes solitários que choram escondidos de saudades de quem os largou. A mãe que espancou, o pai que estuprou, a família que abandonou.
A equipe do Correio acompanhou a Caravana da Comissão dos Direitos Humanos da Câmara Federal por abrigos de oito estados, mais Distrito Federal. Duas repórteres e dois fotógrafos visitaram 36 instituições durante 25 dias. Gastaram cem filmes e gravaram 24 fitas cassetes com os depoimentos de 88 meninos e meninas de várias idades.
Quem conduz o roteiro da reportagem são eles: os órfãos do Brasil. Contam dores do corpo e da alma. Falam de surras do passado e de dúvidas do futuro. Os relatos estão reproduzidos da forma como foram contados. Têm erros de português, lapsos de memória e pedaços que parecem sem lógica. Não são falhas, são sintomas. A dificuldade de linguagem é a seqüela mais perceptível entre as muitas que carregam.
Orfanatos são piores que prisões. Quem está numa cela cometeu um crime. Cada dia que passa é um dia a menos de pena. Criança de abrigo é vítima. Cada milímetro que cresce, cada noite que atravessa, as chances de voltar a encontrar uma família de verdade diminuem.
A matemática da adoção também compromete um