Lixo estraordinario
O filme apresenta o contato do artista plástico Vik Muniz com os catadores de material reciclável do Aterro do Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro. A partir dessa experiência, surge um novo combustível criativo para Vik e, como contrapartida, os catadores diminuem sua distância com a arte e conseguem condições melhores de vida.
Parece mais um acordo do que um filme que surge com os personagens. Lixo Extraordinário começa absurdamente arrogante. Vik sai de Nova York e, após passar pela crise artística “para que serve minha obra?”, vai procurar sangue novo no lixão. A arrogância inicial é perturbadora, pois tanto seu comportamento como das câmeras que acompanham seus passos, se parecem com colonizadores.
Não é exagero. Parece mesmo um estrangeiro “desbravando” uma “terra virgem”. Que Vik, hoje, é um corpo estranho a um lixão, é normal. Mas por que a postura arrogante? Isso é algo que incomoda profundamente no início do filme.
Durante o desenvolvimento de Lixo Extraordinário, o processo é incorporado no documentário, talvez como tentativa de amenizar justamente o início. Quando Vik e catadores, especialmente Zumbi, Tião, Irmã, Magna, Suelem e Isis, diminuem a distância, o desconforto diminui. A partir dali parece que surge um filme.
O final é minimamente feliz para ambos: Vik conseguiu se renovar e os catadores de material reciclável, sob a liderança de Tião, ganham visibilidade. Mas existe algo muito errado no Brasil: se a classe média não olha para o contingente de pobres e não legitima o que eles fazem (sejam política ou artisticamente), passa imperceptível. É como Marisa Monte gravando samba: se não fosse por ela, Lágrimas e Tormentos e seu compositor Argemiro do Patrocínio nunca seria legitimado como músico pelo público fora do morro.
Alguma coisa está errada. Lixo