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Neste livro é como se cada uma das 29 histórias, com sua própria dose de poesia, fosse uma missanga tecendo o colar, ou seja, a obra como um todo. Estas pedras representam igualmente as mulheres que compõem o fio doado por um dos personagens, o sedutor do conto "O fio e as missangas".
Mia Couto apresenta um imaginário vigoroso em sua linguagem e também uma singular concisão da forma na criação literária de nossos dias. Ele abusa da lírica que sua perícia de artífice da língua tem o poder de colher mesmo no texto mais singelo. Sua escrita reproduz essencialmente a voz do habitante de sua terra natal, Moçambique. Pode-se dizer que ela lembra um pouco o estilo de Guimarães Rosa, escritor idolatrado pelo autor.
Os contos aqui presentes invadem o mundo da mulher, conferindo a ela o direito à palavra e doando significado a seres fadados à nulidade e ao abandono. Enquanto artefatos descartáveis, que são usados e depois eliminados, as imagens femininas são neste livro comparadas aqui a uma saia antiga, ali a um recipiente reservado a guardar alimentos; outras vezes é similar a um fio de missangas.
As histórias são curtas e à primeira vista não apresentam um sentido heróico maior. Elas estão centradas na observação de contextos, personagens ou de meras disposições emocionais repletas de valores subentendidos, uma prática própria da poética. Aqui mais uma vez os neologismos de Mia Couto atuam como senha de acesso para a compreensão de seu texto.
As histórias abrangem diversos tópicos, cada uma delas focando um tema singular. Elas cativam o leitor e o mantêm preso até a conclusão, ou o que parece ser o final. O autor investe em temas como violência, morte, rupturas, insanidade, retaliação, incesto, suicídio, entre outras manifestações próprias do Homem.
As mulheres também estão onipresentes nessa obra; sua manifestação do feminino é abordada de outra forma. Mia enfatiza a sujeição, a inexistência, o descaso em relação e elas.