livro
Beethoven era
1/16 negro
E outros contos
Tradução
Beth Vieira
REINHOLD
Sumário
Beethoven era 1/16 negro
Solitária
Sonhando com os mortos
Uma mulher frívola
Gregor
Procedimentos de segurança
Língua materna
Allesverloren
História
Uma beneficiária
Finais alternativos
O primeiro sentido
O segundo sentido
O terceiro sentido
Beethoven era 1/16 negro
Beethoven era 1/16 negro anuncia o apresentador de rádio de um programa de música clássica, juntamente com o nome dos músicos que serão ouvidos nos Quartetos para Cordas no 13, op. 130, e no 16, op. 135.
O apresentador declara isso como reparação a Beethoven? Sua voz e cadência o entregam como irremediavelmente branco. Será que 1/16 é o tácito desejo dele mesmo. Houve tempo em que tinha negro querendo ser branco.
Agora tem branco querendo ser negro.
O segredo é o mesmo.
Frederick Morris (claro que esse não é o nome dele, logo você vai perceber que escrevo sobre mim, um homem com as mesmas iniciais) é um acadêmico que dá aula de biologia e que na época do apartheid era ativista e entre outras embromações um cartunista amador de certo talento, que desenhava cartazes retratando os líderes do regime como os assassinos impiedosos que eram de fato e, mais intrépido ainda, se juntava a outras pessoas para colar os cartazes nos muros da cidade. Na universidade, na era do novo milênio, não é um dos que o corpo estudantil (uma alta nas matrículas robustamente negras, que ele aprova) aponta como especialmente censurável durante os protestos contra a velha turma de brancos que inibe a transformação de um clube de campo intelectual em uma instituição não racial com maioria negra (fala politicamente correta). Os estudantes também não dão muito valor ao apoio de brancos como ele, dissidente do que é tido como o outro, o corpo embecado. Não se pode apoiar o outro. É esse o raciocínio? A história nunca acaba; assim como a biologia que funciona em cada ser.
Um