Livro publicado
Luciana Morais da SILVA (UERJ/UFRJ)
Resumo: O presente trabalho tem por objetivo discorrer a respeito do percurso insólito empreendido por Mia Couto para compor uma narrativa multifacetada e permeada por eventos incomuns. Pretende-se, primariamente, analisar os elementos constituintes da ficção selecionada, buscando-se demonstrar de que forma o autor constrói suas narrativas, revelando pouco a pouco as ocorrências extraordinárias, como traços usuais. Em uma narrativa híbrida e permeada por acontecimentos que oscilam entre o sólito e o insólito, há uma neutralização que acaba por naturalizar o que extrapola o comum, o corriqueiro. O fantástico apresenta-se, dessa forma, como um constructo possível a partir de um discurso insólito “que coloca em discussão a lógica da realidade compreendida como real” (JOZEF, 2006, p. 215). O homem miacoutiano, por sua vez, estabelece uma relação com esse mundo subvertido, com essa lógica em discussão, tornando o mundo aparentemente insólito sólito ao permitir que esse homem vivencie realidades diversificadas.
Palavras-chave: Insólito; Mia Couto; Fantástico; Narrativa Oscilando entre o fantástico e o realismo mágico, a realidade ultrapassa os limites habituais da ficção. Terrificante ou fascinante, a visão literária proposta evidencia a recusa categórica do mundo tal como ele aparece e uma vontade clara da sua reconstrução. Não se trata de uma fuga à realidade, mas de uma dinâmica que estimula a sensibilidade a seu respeito. (AFONSO, 2004, p. 355-356) O presente trabalho tem por objeto a narrativa A varanda do frangipani (2007), de Mia
Couto, em que o narrador é um fantasma, denominado “xipoco”, por sua pertença a outro plano que não o dos vivos. Em franco diálogo com o halakavuma, um ser que coabita entre dois mundos, o dos vivos e o dos mortos, o narrador acaba retornando à terra, ao reconhecimento de uma vivência que há algum