Livro Arte como experiencia palestras 1 2 e 3 John Dewey
Ú L T I M O S
A R T E
D E W E Y
E S C R I T O S ,
C O M O
1 9 2 5 - 1 9 5 3
E X P E R I Ê N C I A
Organização:
JO ANN BOYDSTON
Editora de texto:
HARRIET FURST SIMON
Introdução:
ABRAHAM KAPLAN
Tradução:
VERA RIBEIRO
martins
Martins Fontes
A CRIATURA VIVA
Por uma das perversidades irônicas que muitas vezes a c o m p a n h a m o curso dos a c o n t e c i m e n t o s , a existência das obras de arte das quais depende a formação de uma teoria estética se tornou um empecilho à teoria sobre elas. Para citar uma razão, essas obras são produtos dotados de existência externa e física. Na concepção c o m u m , a obra de ar¬ te é f r e q u e n t e m e n t e identificada com a construção, o livro, o quadro ou a estátua, em sua existência distinta da experiência h u m a n a . Visto que a obra de arte real é aquilo que o produto faz c o m e na experiência, o resultado não favo¬ rece a c o m p r e e n s ã o . Além disso, a própria perfeição de alguns desses produtos, o prestígio que eles possuem, por u m a longa história de admiração inquestionável, cria con¬ venções que atrapalham as novas visões. Quando um pro¬ duto artístico atinge o status de clássico, de algum m o d o , ele se isola das condições h u m a n a s em que foi criado e das consequências h u m a n a s que gera na experiência real de vida.
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JOHN
DEWEY
Q u a n d o os objetos artísticos são separados das condi-
ARTE
COMO
EXPERIÊNCIA
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comumente chamada de apreciação. É perfeitamente pos-
ções de origem e funcionamento na experiência, constrói-se
sível nos comprazermos com as flores, em sua forma colo-
em torno deles um muro que quase opacifica sua significa¬
rida e sua fragrância delicada, sem n e n h u m conhecimento
ção geral, com a qual lida a teoria estética. A arte é remetida
teórico das plantas. Mas quando alguém se propõe a com-
a um campo separado, onde é isolada da associação com os
preender o florescimento das plantas tem o compromisso de
materiais e objetivos de todas