litordajd
394 palavras
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Eu falo de amor o tempo todoEu assisto a filmes românticos e choro. Leio histórias que fazem meu coração apertar. Eu me emociono com propagandas, com cartas, com e-mails e comerciais de margarinas. Eu vivo me derretendo em histórias alheias, sorrisos alheios, amores alheios, porque, no fundo, eu nunca quero nada para mim. E aí eu vivo por aí escrevendo sobre o amor e escondendo de todo mundo que a minha vida toda tudo o que eu mais fiz foi procurar não amar.
Eu procurei não amar aquele carinha que se declarou para mim em pouco tempo. Eu procurei não amar meu melhor amigo, porque ele ia embora para outro país. Eu procurei não amar meu casinho de infância. Eu procurei não amar de verdade nem os meus amores platônicos, porque eu morria de medo de entregar meu coração para alguém tão distante de mim. Eu procurei não amar o vizinho, o menino que sentava ao meu lado e meu ex-qualquer-coisa. Eu fugi do amor como quem foge da cruz, e falei de amor, li sobre o amor, escutei amor, assisti ao amor. Tudo para me encher de algo que eu quase nunca tive.
Talvez um psicólogo dissesse que eu tenho mania de autossuficiência. A verdade é que eu tento tanto não precisar das pessoas porque saber que não precisam de mim dói demais. A verdade é que eu tenho tanto medo de ser esquecida, ignorada, deixada de lado, que eu vou construindo pouco a pouco, tijolo a tijolo, um muro em minha frente. Abro porta, janela e portão pra quem quiser entrar. Mas basta um mísero sinal de que não tá gostando da hospedagem para eu passar a chave em todas as trancas.
E eu vivo por aí como se estivesse tudo bem. Como se minhas feridas estivessem fechadas. Como se eu desse oportunidade para tudo o que quiser acontecer. Enquanto vou me trancando em mim e me guardando, me diminuindo, me podando. Vou evitando transbordar para ninguém roubar a minha essência. E todo o amor que tenho, guardo aqui. Trancado a sete chaves, como uma criança acuada que tem medo que roubem o seu melhor brinquedo.
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