Literatura oral e cordel
Michelli de Aguiar Gomes Carvalho [1]
“Mas a história-estória o povo não escreve: faz, conta, Faz e conta, faz-de-conta, faz e canta.”
Marcus Accioly, poeta pernambucano.
A literatura de cordel é singular em suas características. Rico representante da cultura popular, o cordel está bem vivo, em especial, na tradição artística do Nordeste do Brasil. Buscando semelhanças num passado não muito remoto, o cordel tem suas raízes na poesia dos trovadores, na Idade Média. A espontaneidade na composição dos versos, trazendo sempre temas que vão do cotidiano às crenças populares, faz do cordel uma preciosa e inesgotável fonte de criatividade e cultura, além de ser, em iguais proporções, um campo vasto para pesquisas e estudos acadêmicos.
Seguindo esse raciocínio, este trabalho apresenta um estudo sucinto sobre a literatura de cordel como expressão da literatura oral, trazendo algumas de suas particularidades, suas raízes e expondo o pensamento de alguns pesquisadores do assunto. Ao adentrarmos ao tema proposto, faremos algumas breves considerações sobre memória, tradição oral, e identidade, relacionando-as à proposta deste texto.
O homem, em sua relação com o mundo, sempre elaborou imagens, definiu conceitos, estabeleceu comportamentos e a eles precisa recorrer continuamente para que sua história seja construída dia após dia. A memória é esse arquivo e sua matéria prima é o passado, não só individual, mas de toda uma comunidade. “Ao lembrar, a comunidade recupera fragmentos e seqüências e expulsa os elementos indesejáveis, evidenciando um mecanismo de transformação permanente, em que informações são conservadas, produzidas, selecionadas e transmitidas” (OLIVEIRA, baseado em Iúri Lotman). Rousso (1996) completa ao afirmar que a memória “é uma reconstrução psíquica e intelectual que acarreta de fato uma representação seletiva do passado, que nunca é aquele do indivíduo somente, mas de um indivíduo inserido num contexto familiar,