Literatura infantil
Associada a acontecimentos de fundo econômico e social, a origem da literatura para crianças, de acordo com Zilberman (1988) ocorre no século XVIII, período em que a Revolução Industrial é deflagrada. Determinando o crescimento político e financeiro das cidades, a industrialização tem como reflexo direto a decadência do sistema medieval, baseado no feudalismo e na valorização do poder rural. Em substituição aos grandes senhores feudais, a burguesia se afirma como classe social urbana, incentivando a consolidação de instituições que a ajudem a atingir as metas desejadas. Entre essas instituições, destacam-se a família e a escola. Interessado em desmantelar a unidade do poder dos feudos, o Estado Absolutista passa a estimular um modo de vida mais doméstico e menos participativo publicamente, criando para tanto um determinado estereótipo familiar, baseado na organização patriarcal e no modelo de família nuclear. Visto que tal estereótipo representa a significação dessa nova forma de governo, em sua mesma obra, ZILBERMAN destaca que, para legitimá-lo foi necessário promover a criança, maior beneficiário dessa estrutura. Se até o século XVII ela era vista como um adulto em miniatura, a partir do século XVIII adquire um novo status, determinando a valorização dos laços de afetividade e não mais de parentesco e herança conforme previa o sistema medieval. Esta promoção da criança fez com que sua mão-de-obra deixasse de ser explorada, para que o seu papel fosse vivenciado. Os deveres morais e sociais passaram a ser transmitidos, através de histórias com um fundo moralizador; deixando de lado a valorização de instruções, vivências e hostilidades do mundo dos adultos. Detentora de um novo papel na sociedade e vista agora como um ser frágil, desprotegido e dependente, a criança passa a ser alvo de valorização e de proteção, sendo separada da hostilidade do mundo adulto ao qual tinha antes livre acesso. Esse