literatura brasileira

Memórias de um sargento de milícias

Crítica
Por se tratar de uma obra que se julga por muitos críticos e literatos como um romance realista, Memórias de um sargento de milícias inaugura de forma diferente a estrutura de seu romance, que, pontuado por Candido, adota linguagem coloquial ao retratar cenas do cotidiano, as fofocas, intrigas e peripécias retratadas na obra. Pouco houve preocupação em demonstrar traços que evidenciassem as características românticas que a época exigia, tanto que esta criação é praticamente tratada como pertencente ao romantismo por estar inserida na época em que este era vigente.
As características dos personagens, principalmente dos pais de Leonardo e dele próprio, demonstram trajetórias que contradizem a visão romântica, do herói que passa a ser anti-herói, da história que começa como traição e não aceitação de um filho gerado a partir de beliscões e pisadelas. Em nenhum momento do livro se nota afeições próprias dos romances românticos, a não ser pelos sarcasmos e ironias de alguns personagens, como Leonardo. Mesmo tendo amor por Luisinha, com quem se casaria, sabia que viveria bem com a herança que herdaria, dualizando a simbologia do casamento como além de um enlace matrimonial um bom negócio a ser feito, unindo o útil ao agradável, como se diz vulgarmente.
A linguagem também denota uma significativa representação de passagem para o realismo a partir desta obra, visto que mesmo sendo romântica (e não aparentando tal), possui crítica social, valorização do linguajar coloquial interiorano, o que releva o interesse do autor pela vida simples da população suburbana no início do século XIX. Por meio deste aspecto e do sarcasmo imposto e representado pelo personagem principal, mas também um pouco presente nos outros, há uma espécie de carnavalização, já que tende para um lado mais humorístico da realidade, do burlesco presente na vida das pessoas nos mínimos detalhes da vida que é contada por Manoel Antônio de Almeida.
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