Lirismo tradicional
Primeiro vamos prestar atenção à corrente peninsular pela qual foi inspirada de maneira significativa a obra lírica camoniana. Se falamos da lírica peninsular, não podemos deixar de mencionar que esta chegou para os tempos de Camões não só através dos antigos Cancioneiros, mas sobre tudo por meio do Cancioneiro Geral. Este cancioneiro colecciona a poesia palaciana e mantem a herança do trovadorismo peninsular captando mesmo a transição do lirismo medieval para o renascentista.
De qualquer forma Camões parece ter-se inspirado nas antigas cantigas de amigo, retomando sobre tudo o tema que até nos faz lembrar as canções populares.
O autor usa com frequência a forma da redondilha mantendo simultaneamente um certo paralelismo medieval no refrão, como podemos ver no poema “Descalça vai para a fonte”.
Corrente lírica renascentista
Depois de termos analisado a corrente inspirativa peninsular, vamos olhar para a herança clássica na obra de Camões, isto é, tentar procurar na lírica camoniana os fenómenos nos quais podemos demonstrar a inspiração na renascença italiana e sobretudo, na obra de Petrarca.
Quanto à forma, na época de Camões mistura-se a medida velha com o estilo novo, introduzido para Portugal da Itália por Sá de Miranda. Como sabemos, neste estilo novo predomina o decassílabo, que abre a porta ao soneto, à canção de novo molde, à ode, à écloga, à elegia e às outras novas formas da poesia.
Falando dos temas na lírica renascentista camoniana, temos que mencionar o galanteio ou o encarecimento amoroso, a psicologia da paixão amorosa, mas também os temas filosóficos como, por exemplo, o desajustamento entre o merecimento e a fortuna, entre o direito à felicidade e o gozo dela, etc.
O papel inspirativo de Petrarca é possível ver sobre tudo nas composições camonianas amorosas. A mulher ideal, a imagem da Amada em Camões é mesmo petrarquiana, como também, a ideia do apuramento do Amor graças à ausência.