linguagem
Assim como o escultor toma um bloco de mármore e guiado pela visão interior de sua futura obra, elimina tudo que não faz parte dela – do mesmo modo o cineasta, a partir de um bloco de tempo constituído por uma enorme e sólida quantidade de fatos vivos, corta e rejeita tudo aquilo de que não necessita, deixando apenas o que deverá ser um elemento do futuro filme, o que mostrará ser um componente essencial da imagem cinematográfica. (TARKOVSKI, 1998, p.72)
A matéria-prima do cinema é o tempo e o cineasta enquanto artista deve esculpi-lo. Assim Tarkovski define essencialmente o cinema em seu livro Esculpir o Tempo (1998), concluído pouco antes de sua morte. O livro, uma espécie de diário do diretor, define bem o percurso do seu trabalho e filosofia, na qual, o diretor expõe principalmente a preocupação em definir as especificidades e o potencial do cinema enquanto uma arte única e independente de qualquer outra arte. Ao longo do livro, Tarkovski revela suas experiências como cineasta e a preocupação em torno da própria arte, questionando o seu conceito e função. Expondo em muitos momentos suas dificuldades e inseguranças em torno de seu próprio trabalho.
O cineasta russo, teve sua formação e grande parte de sua produção realizadas na antiga União Soviética. No total, o diretor produziu dois curta-metragens, enquanto cursava cinema, e sete longa-metragens. Seu primeiro longa foi A Infância de Ivan1 (1962), o qual lhe rendeu alguns prêmios internacionais e seu reconhecimento dentro do cinema. Tarkovski ganharia ainda mais recohecimento e prêmios com seus filmes posteriores como Andrei Rublev2(1966), Solaris3 (1972), O Espelho4(1974) e Stalker5(1979). No entanto, apesar de conseguir os recursos para produzir seus filmes ele sofria com a censura do regime comunista da época, principalmente nos dois ultimos trabalhos produzidos pelo diretor em território Soviético.6 Insatisfeito com a cesura que seus