Linguagem
Índice
Folha de Rosto
O conselheiro
O enganado
Paula
Revelações
Padre Alfredo
Robespierre e seu executor
O maior mico do mundo
Os bolsos do morto
Natal branco
Abraão e Isaque
A tia que caiu no Sena
A Juliette
Exilados
RSVP
Entrevista
A tradutora belga
Don Juan e a Morte
Perdedor, vencedor
Tea
A tática da bolsa
Teatrinho
Bebel
Geoffrey
Sonhos
Picasso e Goya sob o sol
Tem cada um...
Estátuas
Pacóvio
Albert e Mileva
O conselheiro
João riu muito quando a Heleninha contou que tinha um ursinho de estimação, sem o qual não saberia viver, e que ele se chamava Tedi.
— Vá se acostumando — disse a futura sogra ao João, dias antes do casamento, depois de a
Heleninha revelar que levaria o Tedi na lua de mel. — Ela não larga esse ursinho. Desde menininha. E a Heleninha levou o ursinho de estimação na lua de mel. E colocou o ursinho na cama do casal, depois que voltaram da lua de mel e se instalaram no apartamento novo. E João não se cansava de olhar a nova mulher dormindo abraçada ao seu ursinho. Bonito aquilo. Heleninha, no fundo, ainda era uma criança. O ursinho era a segurança de Heleninha. Era o seu apego à infância e às suas doces ingenuidades. E seu confidente. E seu conselheiro.
— Ah é? — sorriu João. — Você conta todos os seus segredos para o Tedi?
— Conto.
— E ele lhe dá conselhos?
— Dá.
— Um dia vou ter que ter uma conversa com esse ursinho...
— Ele não fala com qualquer um — disse Heleninha. Séria.
João deu uma boa risada. Mas Heleninha continuou séria. Estava sentida. O marido estava fazendo pouco dela. Estava tratando-a como a uma criança. No dia seguinte, Heleninha pediu para João ir dormir na sala.
— Por quê?
— O Tedi acha que será melhor para o nosso casamento.
A sogra recomendou ao João que tivesse paciência. Na verdade, durante toda a infância e a adolescência de Heleninha os conselhos que ela atribuía ao Tedi tinham se revelado muito sensatos. A própria escolha do João como marido