Linguagem e ideologia nos quadrinhos
O CASO DO CAPITÃO AMÉRICA
Nataniel dos Santos Gomes (UEMS) natanielgomes@uol.com.br Cada ideologia tem a inquisição que merece.
(Millôr Fernandes)
1.
Introdução
Durante muito tempo falar de quadrinhos era sinônimo de tratar de um assunto exclusivo do universo infantil. Mas com a visibilidade que eles conseguiram, tal conceito mudou e têm surgido diversos artigos, livros e teses analisando a sua importância e fazendo uma interface com outras áreas. Principalmente depois que se tornarem “um alimento de consumo de massa para os cidadãos de todo mundo, influindo na sua cultura, sua língua e seus costumes, modelando seus gostos e suas inclinações” (MOYA, 1970, quarta capa).
Nossa proposta é fazer uma breve reflexão sobre um personagem das histórias em quadrinhos, o Capitão América, e sua relação com a questão ideológica.
2.
Linguagem: definições
Para muitos o século 20 foi chamado o século da linguagem, tanto que a “linguagem tem sido o tema por excelência da filosofia contemporânea” (ARAÚJO, 2004, p. 19).
No século 18, a linguagem era definida como uma expressão do pensamento humano, conforme Arnauld e Lancelot em Lógica ou arte de pensar. Por outro lado, a linguagem foi definida como um instrumento de comunicação. A partir dela diz-se que a língua é um código que estabelece a comunicação entre o emissor e o receptor. É o que vemos na obra de
Roman Jakobson, que foi muito criticada principalmente porque além da partilha entre o emissor e o receptor de um mesmo código, eles precisam pertencer à mesma cultura e precisam de conhecimentos relativamente comuns. Cadernos do CNLF, Vol. XVI, Nº 04, t. 1 – Anais do XVI CNLF, pág. 805
No século 20, principalmente nas últimas décadas, a linguagem passou a ser analisada como uma forma de interação. Nesse sentido, a linguagem não é utilizada apenas para exteriorizar o pensamento ou no estabelecimento da comunicação, mas para a realização ação, para atuar sobre o outro, para interagir,