Linguagem e estilo de Eça de Queiroz
Apesar de reunir, não só pelo conteúdo, qualidades estrondosamente abonatórias para um romance, Os Maias é também rico em variedade e eficiência linguística. Várias são as faculdades do autor no campo da expressividade da escrita. Eça de Queirós soube trazer para a literatura a verdadeira linguagem corrente da burguesia lisboeta, tirar partido do seu vocabulário habitual, relativamente reduzido, torná-la apta a exprimir um conteúdo ideológico e estético mais rico do que aquele em que até então fora utilizado. Ele soube tornar a língua um instrumento dócil a uma nova expressão, pondo de lado os lugares-comuns e criando novas associações vocabulares.
A prosa de Eça de Queirós reflecte a sua forma de pensar e exprime facilmente o seu modo de ver o mundo e a vida. Este soube explorar, a partir de um vocabulário simples, a força evocativa das palavras com o uso de sentidos conotativos e relações combinatórias. Através de processos como: o ritmo da narração, a descrição, o diálogo, monólogos interiores e comentários, Eça conseguiu modernizar a prosa portuguesa.
Vejamos então alguns dos processos pelos quais Eça conseguiu a força evocativa explorada a partir de vocabulários simples:
1- O adjectivo
O adjectivo é usado frequentemente por Eça de Queiroz e desempenha um papel relevante na propriedade e riqueza da expressão.
Dupla e tripa adjectivação:
Ex: “Os seus dois olhos redondos e agoirentos”
Adjectivos com uma função caricatural e satírica:
Ex: “Dâmaso era interminável, torrencial, inundante a falar das suas conquistas”
Adjectivos que nem sempre se encontram seguidos:
Ex: “Os seus lindos dentes miudinhos alvejaram a sombra do céu”
2- O adverbio
A prosa Queirosiana explora o adverbio adjunto de modo, servindo-se não apenas da sugestão de continuidade, mas também explorando outras potencialidades expressivas.
Adverbiação dupla e tripla
Ex: “Insensivelmente, irreversivelmente, Carlos achou-se (…)”