Linguagem literária e linguagem jornalística: Cumplicidades e distâncias
Cumplicidades e distâncias
Paula Cristina Lopes ∗
Universidade Autónoma de Lisboa
Literatura e jornalismo são dois modos de narração paralelos – e, por vezes, convergentes –, cuja coincidência fundamental assenta na utilização da palavra como utensílio de trabalho e da frase como veículo de pensamento. Estas construções narrativas – que estabelecem níveis de significação, veiculam mitos e arquétipos, constroem personagens e imagens, expressam acções e sentimentos – diferenciam-se pela intenção do discurso e convergem num mesmo ponto, o leitor, sempre com um mesmo propósito: comunicar.
Tanto num caso como no outro, a realidade expressa por palavras pressupõe manipulação, pressupõe a produção e difusão de uma versão de uma determinada realidade.
A literatura pode ser entendida como uma imitação pela palavra assente na ficcionalidade, que apresenta dois valores nucleares: o valor de significado
(semântico) e o valor formal (de expressão linguística). Há manifestamente uma intenção estética, artística, altamente polissémica. Recorrendo a Yvette
Centeno, podemos afirmar que aquilo que define o texto literário é, “mais do que a vontade de comunicação, a sua capacidade de significar”. Este texto vive
“do que a mensagem contém e não do que ela simplesmente diz” (CENTENO,
1986: 55, 58). O texto literário emprega as palavras da língua com liberdade, recorrendo ao seu sentido conotativo ou metafórico.
E quanto ao texto jornalístico? O jornalismo pode ser entendido como uma imitação pela palavra assente na objectividade. O jornalista dedica-se “à actividade de contar um certo tipo de histórias verdadeiras, de contar um certo tipo de narrativas de realidade, e o seu mundo é, pelo menos originalmente,
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Mestre em Ciências da Comunicação e pós-graduada em Comunicação, Cultura e Tecnologias da Informação. Professora na Universidade Autónoma de Lisboa e formadora no Cenjor, frequenta o Programa de Doutoramento em